Oscar D’Ambrosio
A poética desta exposição de Ilka Lemos é tratar, por intermédio de diversas linguagens, como pinturas e esculturas em cerâmica, diversas interpretações e símbolos que surgem em torno de Lilith, referida na Cabala judaica como a primeira mulher do bíblico Adão. Acusada também de ser uma manifestação associada à serpente que levou Eva a comer o fruto proibido, ela teria sido expulsa do Jardim do Éden e se tornou mãe dos demônios.
Por entender que havia sido criada por Deus com a mesma matéria-prima, Lilith teria se rebelado, não aceitando ficar sempre embaixo durante as relações sexuais. Desse modo, contesta o sistema patriarcal e, acima de tudo, seja no desenho, na pintura ou na escultura, impõe-se como um alerta contra qualquer tipo de autoritarismo.
A matriz do trabalho de Ilka neste projeto com a mítica Lilith reside no desenho. É no hábito de saber ver e de conseguir levar a sua lírica com expressividade para outros suportes, como o papel, a tela e a escultura, é que a artista mostra a sua maturidade e propõe uma relação com o mundo que escapa do lugar-comum. Ilka Lemos parte muitas vezes do modelo vivo, leva a imagem para numerosos desenhos e, depois, os cristaliza em telas com tinta acrílica ou outros suportes tridimensionais como a cerâmica, numa linha de raciocínio contra qualquer conformismo ou submissão.